A CAMINHADA DA
LIBERDADE, DEIXA FLÁVIO DINO, FILUCA, LEONARDO SÁ, OTHELINO NETO, ZÉ ARLINDO
ACUADOS.
“
A GOTA D’ÁGUA”
Esse
fato das multidões nas ruas de pinheiro me faz lembrar a peça teatral de Chico
Buarque de Holanda e Paulo Pontes escrita em 1975: ”A Gota d’água”. Atingiu-se
agora a gota d’água que fez transbordar o copo. Os autores de alguma forma
intuiram o atual fenômeno ao dizerem no prefácio da peça em forma de livro: “O
fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, ser devolvida, nos
palcos, ao público brasileiro… Nossa tragédia é uma tragédia da
vida brasileira”. Ora, esta tragédia é denunciada pelas massas que gritam nas
ruas. Esse Brasil que temos não é para nós; ele não nos inclui no pacto social
que sempre garante a parte de leão para as elites. Querem um Brasil brasileiro,
onde o povo conta e quer contribuir para uma refundação do pais, sobre outras
bases mais democrático-participativas, mais éticas e com formas menos malvadas
de relação social.
Esse
grito não pode deixar de ser escutado, interpretado e seguido. A política
poderá ser outra daqui para frente. Com uma politicas de ideis inovadora.
Antes de qualquer coisa, importa reconhecer que
é o primeiro grande evento, fruto de uma nova fase da comunicação humana, esta
totalmente aberta, de uma democracia em grau zero que se expressa pelas redes
sociais. Cada cidadão pode sair do anonimato, dizer sua palavra, encontrar seus
interlocutores, organizar grupos e encontros, formular uma bandeira e sair à
rua. De repende, formam-se redes de redes que movimentam milhares de pessoas
para além dos limites do espaço e do tempo. Esse fenômeno precisa ser analisado
de forma acurada porque pode representar um salto civilizatório que definirá um
rumo novo à história de Pinheiro, não só de um país mas de toda a humanidade.
As manifestações do Brasil provocaram manifestações de solidariedade em dezenas
e dezenas de outras cidades no mundo, especialmente na cidade de Pinheiro.
De repente o Pinheiro não é mais só de um
Pinheirense. É uma porção da humanidade que se identifica como espécie, numa
mesma Casa Comum, ao redor de causas coletivas que querem simplesmente ser
assistido ou visto através de um grito.
Um
grito de efeito de saturação: o povo se
saturou com o tipo de política que está sendo praticada na cidade de
Pinheiro inclusive por um prefeito. E
agora o que? Bem dizia o poeta cubano Ricardo Retamar: “o ser humano possui
duas fomes: uma de pão que é saciável; e outra de beleza que é insaciável”. Sob
beleza se entende educação, cultura, reconhecimento da dignidade humana e
dos direitos pessoais e sociais como saúde com qualidade mínima e
transporte menos desumano.
Essa
segunda fome não foi atendida adequadamente pelo poder publico. Os que mataram
sua fome, querem ser atendidas outras fomes, não em ultimo lugar, a fome de
cultura e de participação. Avulta a consciência das profundas desigualdades
sociais que é o grande estigma da sociedade brasileira. Esse
fenômeno se torna mais e mais intolerável na medida em que cresce a consciência
de cidadania e de democracia real. Uma democracia em sociedades profundamente
desiguais como a nossa, é meramente formal, praticada apenas no ato de votar.
Um
espírito de insurreição de massas humanas está varrendo a cidade de Pinheiro todo,
ocupando o único espaço que lhes restou: as ruas e as praças. O movimento está
apenas começando:
Representa
um desafio para qualquer analista interpretar tal fenômeno. Não basta a razão
pura; tem que ser uma razão histórica que incorpora outras formas de
inteligência, dados racionais, emocionais. Só assim teremos um quadro mais ou
menos abrangente que faça justiça à singularidade do nosso povo Pinheirense.